dezembro 24, 2005

Que ponto sensível toquei?

Por obra do jornalista Henrique Monteiro do Expresso, estas duas últimas semanas vivi a experiência de estar nas bocas do mundo com apreciações e críticas de todos os feitios e revelando quase sempre um sentido de oportunismo que me deixou estupefacto. Aquele jornalista pegou num artigo que apresentei no Seminário de Investigação em homenagem ao Paulo Abrantes realizado na FCUL e usou-o (usando-me de uma forma eticamente intolerável) escrevendo a sua crónica para deitar abaixo a educação em Portugal. Na sequência disso algumas vozes saíram debaixo das pedras (onde recatadamente parecem aguardar a oportunidade para ganhar alguns pontos ou algum poder nestas coisas da educação e da formação de professores) e usaram a situação aproveitando o momento para trazer à luz as suas reivindicações sobre a formação de professores (e no caso de uma colega do meu departamento, até as suas frustrações mais pessoais). Considero isso lamentável. Uma tristeza de que não quero aqui falar. O oportunismo revelado não me admira já.

A minha resposta ao artigo foi enviada ao Expresso no dia 13 de Dezembro e, depois de literalmente obrigado a reduzi-la a um terço, foi publicada como artigo ontem dia 23.

A
resposta do Coordenador do CIE (com o objectivo claro de separar as águas e não discutir as questões de fundo sobre a educação matemática em Portugal) e a resposta do Presidente da FCUL (revelando uma visão bastante mais interessante e uma grande frontalidade e capacidade de lidar com estas situações) foram publicadas no site do CIE.

Guardo os comentários que me chegaram directamente mostrando indignação pela forma como o trabalho de uma pessoa é usado para fins pouco claros. Obrigado a todos. Lamento dois comentários que me sugeriram que "é preciso ser-se mais cuidadoso ao falar" e "não se pode dizer certas coisas em público" - com uma clara alusão à necessidade de auto censura e de silenciamento, lembrando-me tempos do antes do 25 de Abril que julguei enterrados. Para mim este episódio está encerrado. O jornalista envolvido classificou-se a si mesmo. As pessoas que, de forma eticamente lamentável, usaram este episódio para fazer as suas guerras, afundaram-se na esterilidade dos seus argumentos.

Fica uma noção de que em termos de ética há muito a aprender. Mas este episódio revelou também como alguns meios (incluindo sectores da universidade) estão em Portugal. Quero acreditar que são apenas uma pequena parte. Mas impressionou-me a forma como algumas pessoas parecem estar desorientadas e com medo. Algumas destas comunidades - com práticas que mereciam uma investigação que as exponha à análise de outros - precisam absolutamente de educação.

Fica-me a interrogação: que ponto ou pontos sensíveis terei tocado?